A história é a seguinte https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br Contamos por que todo passado é presente Tue, 10 Aug 2021 12:55:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A estátua na praça do enforcado https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/08/03/a-estatua-na-praca-do-enforcado/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/08/03/a-estatua-na-praca-do-enforcado/#respond Tue, 03 Aug 2021 13:00:46 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/blog_estatua_dpedro_pcatiradentes-300x213.jpg https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=669 A praça Tiradentes, no centro do Rio, ostenta uma estátua equestre de Pedro 1º, neto de Maria, a rainha portuguesa responsável pelo enforcamento do inconfidente, naquele mesmo local.

A confusão se desenrola, mas não se desfaz, com as datas. Joaquim José foi executado em 21 de abril 1792. A estátua foi colocada em 1862  pelo segundo Pedro imperador, filho do primeiro. A praça, outrora da Constituição, foi batizada com o nome atual em 1890, logo após a proclamação da República.

O mal-estar já estava instalado na inauguração do monumento, conta José Murilo de Carvalho em “A Formação das Almas” (Cia das Letras). Teófilo Otoni, liberal mineiro, chamou-a de “mentira de bronze”. Panfletos com um poema crítico à homenagem foram apreendidos pela polícia: “Hoje o Brasil se ajoelha/E se ajoelha contrito/Ante a massa de granito/Do Primeiro Imperador!”

Radicais republicanos, que elegeram Tiradentes o primeiro mártir da causa, quiseram se vingar depois que o Império tinha se esfacelado. Em 1893 a ideia deles era comemorar o 21 de abril na praça do alferes enforcado, mas sem o olhar inconveniente do primeiro imperador em seu cavalo. Alguém teve uma ideia: vamos erguer um coreto, um biombo em torno da estátua, e desaparecer com ela para os festejos. A prefeitura, sob Barata Ribeiro, inicialmente colaborou com os planos de ocultar a imagem de pedra. Até sentir o calor da reação.

A ousadia foi considerada tamanha que, na véspera da comemoração, até O Paiz, veículo republicano e governista, reclamou. “Velar, de qualquer forma ou sob qualquer pretexto, uma estátua da ordem da de que se trata é ato desassisado e que pelo menos cobre-nos do epíteto de orgulhosos ignorantes”.

A prefeitura decidiu então desfazer a obra de ocultação dos tiradentistas, mas pelo visto os partidários do imperador montado não botaram fé na boa vontade das autoridades e começaram eles mesmos a quebrar o coreto, o que exigiu a intervenção da força policial. O Paiz, que concordou com o mérito dos queixosos, discordou dos meios: “Nunca aconselharemos o povo aos atos de represália e ao desforço de próprias mãos”.

No dia seguinte, as comemorações do dia de Tiradentes tiveram de ser canceladas.

 

 

 

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O general queria os militares fora do governo https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/07/15/o-general-queria-os-militares-fora-do-governo/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/07/15/o-general-queria-os-militares-fora-do-governo/#respond Thu, 15 Jul 2021 20:20:08 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/revoltaarmadaferrez-300x213.jpg https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=658 Em 15 de junho de 1893, o general Frederico Sólon Ribeiro, deputado federal por Mato Grosso, pediu a palavra para encaminhar à apreciação da Câmara o seguinte projeto de lei:

Art. 1º Nenhum militar em atividade poderá exercer cargo algum político, quer de eleição popular, quer de nomeação.

Art. 2º O militar que aceitar cargo de que trata o artigo anterior entende-se ter renunciado à sua patente.

Parágrafo único. A falta de renúncia expressa induz reforma imediata com as vantagens que por lei competirem ao reformado, sem direito ao regresso ao serviço ativo do Exército.

Art. 3º. Excetuam-se, nas disposições do art. 1º, as comissões técnicas e científicas ou diplomáticas previstas por lei.

Frederico Sólon guardava do lendário reformador ateniense apenas o nome, assim como o coronel niteroiense Benjamin Constant não passava de uma sombra quase contraditória do seu célebre homônimo franco-suíço, gigante do liberalismo continental.

Esses oficiais, no entanto, eram o que tinha para o dia no final do século 19, no Rio, e ajudaram a fazer a nossa República na base da força. Enquanto Benjamin disseminava um positivismo intervencionista nas escolas militares, Frederico, ainda major, disseminava desinformação. Ele espalhou a mentira, em 14 de novembro de 1889, de que o gabinete Ouro Preto havia decretado a prisão do marechal Deodoro da Fonseca, de Benjamin Constant e de agitadores republicanos. Foi o estopim para o golpe do dia seguinte.

Em 1893, Sólon, sogro do escritor Euclides da Cunha, estava rompido com o marechal Floriano Peixoto, que assumira, ao arrepio do comando constitucional, a Presidência no final de 1891, após um autogolpe frustrado de Deodoro. À proclamação havia se seguido um avanço voluptuoso de militares sobre postos administrativos, verbas e privilégios federais.

É nesse contexto que o general Sólon Ribeiro apresenta o projeto de lei para acabar com a farra. Dez dias depois de pedir passagem à proposta na Câmara, ele justificou a iniciativa num artigo ao Jornal do Commercio:

“A história está repleta de Exércitos liberticidas que, sobretudo após as grandes reformas sociais, têm sempre a parte do leão em todos os despojos; faltava-lhe o exemplo de um Exército procurando espontaneamente o império nobilitador da lei, abdicando ambições fáceis de serem realizadas e às quais se presta admiravelmente toda a perturbação que lavra por este país. (…) O projeto que apresentei terá o valor de destruir ante a opinião estrangeira a perspectiva desmoralizadora dos pronunciamentos [eufemismo para as quarteladas da América hispânica].”

O projeto de Frederico Sólon Ribeiro, obviamente, naufragou. O autor foi preso por Floriano poucos meses depois, nos expurgos que se seguiram à Revolta da Armada. O genro Euclides, florianista e integrante das tropas que defenderam o marechal do cerco naval no Rio, viu-se numa saia-justa familiar e escreveu à sogra, Túlia, solicitando que seu nome não mais fosse declinado na casa dos sogros.

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