A história é a seguinte https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br Contamos por que todo passado é presente Tue, 10 Aug 2021 12:55:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 As vantagens das múltiplas hipóteses na história https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/02/28/as-vantagens-das-multiplas-hipoteses-na-historia/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/02/28/as-vantagens-das-multiplas-hipoteses-na-historia/#respond Sun, 28 Feb 2021 13:30:51 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/cellarius_hypothesis_ptolemaica-300x215.png https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=473 A escolha das hipóteses é um passo decisivo em qualquer pesquisa. Hipótese pode ser definida como uma ideia proposta para explicar um certo fenômeno (isto é, um fato ou evento), podendo ser ou não corroborada pelas evidências. Longe de ser uma decisão trivial, a escolha de uma hipótese tem implicações que podem distorcer os resultados da pesquisa de forma irreparável.

Os problemas relacionados à escolha de hipóteses são ainda maiores no caso de uma disciplina como a história econômica, que lida com ações individuais e coletivas, instituições e estruturas, que são de natureza distinta dos fenômenos físicos e naturais. Um dos maiores riscos é que a escolha prévia de uma ou outra hipótese preferencial acabe por determinar os resultados do que está sendo investigado.

Às vezes, as hipóteses são baseadas diretamente em uma teoria geral que fornece os elementos (fatores, variáveis) e as relações causais que vão delimitar os resultados da análise. Nesse caso, outros elementos e relações são excluídos do estudo e a explicação proposta, quando a pesquisa é empírica, resume-se a testar a significância da hipótese escolhida à luz dos dados coletados. Embora seja um exercício válido dentro da teoria adotada, o problema é que nada garante que as variáveis e relações selecionadas sejam realmente as mais relevantes para explicar um determinado problema, de maneira que a explicação (hipótese) oferecida pode estar comprometida na sua origem.

Em tese, explicações concorrentes, baseadas em distintas teorias, deveriam ser confrontadas e corroboradas ou não pelas evidências. Mas como as próprias evidências utilizadas dependem do que é considerado relevante pelas teorias, é comum que explicações diferentes convivam em mundos paralelos, sem comunicação entre seus defensores. O maior destaque de uma teoria em relação a outras, nesse caso, pode depender em grande medida de razões institucionais, como por exemplo a influência de centros de pesquisa e universidades na formação de estudantes que irão reproduzir teorias, métodos e explicações mais ou menos em voga.

Quando a pesquisa mais se assemelha à montagem de um quebra-cabeças (faltando a maioria das peças), como no estudo da evolução das espécies ou da história, o papel das ideias preconcebidas (ou teorias) na formulação das hipóteses tende a ser ainda maior, podendo até obscurecer o entendimento da realidade. Não é incomum que as convicções prévias sejam tão grandes que levam a uma escolha seletiva de evidências, transformando, na prática, o que deveria ser uma pesquisa em uma mera busca de confirmação das hipóteses. Em tais casos, as hipóteses tornam-se impossíveis de serem rejeitadas, pois elas já foram previamente definidas como verdadeiras.

É nessa situação que um método alternativo na seleção de hipóteses pode ser mais adequado para alguém que estude algum tema histórico. A estratégia consiste na escolha deliberada de múltiplas hipóteses que deem explicações possíveis, distintas e concorrentes para um mesmo fenômeno. Esse é o tema de um artigo de 2016 na Nature, com o título “Research protocols: A forest of hypotheses”. Na verdade, o método faz parte de práticas antigas de pesquisa em diferentes áreas, mas que continuam pouco conhecidas ou aceitas. Apesar do artigo da Nature tratar da pesquisa nas ciências naturais, as questões também são comuns na história e em outras disciplinas das ciências humanas.

Em vez de apegar-se a uma explicação única, que corre o risco de tornar-se uma busca disfarçada de confirmação, o uso de múltiplas hipóteses requer uma atitude diferente: admite-se a presença de possíveis vieses e tenta-se controlá-los considerando explicações alternativas do problema estudado. Comparando essas hipóteses distintas com as evidências, pode-se ter um guia mais fiel para julgar se as explicações são plausíveis e consistentes. Ao mesmo tempo, a pessoa vê-se forçada a questionar suas convicções prévias e avaliar o problema de forma mais distanciada. Essa atitude pode ajudar, inclusive, a encontrar novas evidências que são excluídas quando se escolhe antecipadamente uma causa única.

Seria ingênuo imaginar que simplesmente formular múltiplas hipóteses seja capaz de eliminar, por si só, os problemas típicos de uma pesquisa notados antes. Por exemplo, a estratégia requer um grau de distanciamento em relação a todas as hipóteses escolhidas que pode ser difícil de ser obtido na prática. Não bastaria adicionar explicações ao lado da preferida para depois descartá-las ou desmoralizá-las.

Da mesma forma, nada garante que as múltiplas hipóteses selecionadas incluam sempre as que sejam, de fato, as mais relevantes para explicar um certo fenômeno. Pensar o contrário seria imaginar que alguém possa ser onisciente. Mas, pelo menos, o hábito de reconhecer as possíveis distorções do julgamento individual já é um grande passo. Considerar hipóteses concorrentes e tentar contrastá-las de forma equilibrada com as evidências são um ponto de partida mais honesto e produtivo para tentar entender a realidade, inclusive quando se busca compreender melhor o passado.

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Colômbia tenta trazer à luz a história de sua guerra interna https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/01/04/colombia-tenta-trazer-a-luz-a-historia-de-sua-guerra-interna/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/01/04/colombia-tenta-trazer-a-luz-a-historia-de-sua-guerra-interna/#respond Mon, 04 Jan 2021 18:59:15 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/abre-rendicion-nota-300x215.jpg https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=325 O pensador irlandês Edmund Burke (1729-1797) escreveu que “o povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”. Embora não exista garantia nenhuma de que, de posse de conhecimentos sobre o passado, a humanidade possa voltar a cometer os mesmos (ou piores) erros, é preciso concordar que, pelo menos, a compreensão da história nos ajuda a curar feridas, reconciliar sociedades e nos oferece uma oportunidade de realizar escolhas políticas melhor informadas. 

Por exemplo, será que, se o Brasil tivesse um melhor sistema educacional e as pessoas conhecessem de modo mais completo a história do país durante a ditadura militar (1964-1985) teria de fato eleito Jair Bolsonaro? E se tivesse havido um esforço mais contundente para esclarecer todas as atrocidades do regime e realizar julgamentos, derrubando a Lei de Anistia, não seríamos uma sociedade melhor, com mais capacidade crítica e, talvez, mais empatia? 

Pois há muitos casos de países que viveram traumas históricos profundos e que estabeleceram, de uma forma ou de outra, comissões da verdade, tribunais especiais, processos na Justiça comum ou outros recursos de reparação, esclarecimento e condenação de delitos cometidos pelo Estado ou por aqueles que optaram pela luta armada para resistir a um regime autoritário e que, em nome disso, também cometeram atrocidades.

Um dos países que está atualmente fazendo um grande esforço para sanar uma dívida com sua própria história e, talvez, evitar uma repetição de um verdadeiro pesadelo é um país vizinho ao Brasil, a Colômbia.

Em novembro de 2016, o Estado colombiano assinou um acordo de paz com uma de suas guerrilhas de esquerda mais antigas, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), fundada em 1964. A guerra entre essa agrupação e o poder institucional do país teve como consequência a morte de 220 mil pessoas, a desaparição de mais de 100 mil, o deslocamento interno de 7,7 milhões de camponeses que foram obrigados a deixar seus lares para aumentar as periferias e favelas dos grandes centros urbanos e, ainda, outros 5 milhões de exilados para fora do país (desde os anos 1970).

As perdas econômicas, sociais e políticas de tal pesadelo, que durou mais de 50 anos, são incalculáveis. O acordo de paz trouxe algo de esperança, embora existam ainda grandes obstáculos em sua implementação. Um dos aspectos positivos e que vem dando resultado, porém, tem a ver com o tema deste blog. É aquele relacionado à memória do conflito e a reconstrução dos fatos ocorridos desde 1964, quando as Farc se formaram.

O acordo estabeleceu a criação do Sistema Integral de Verdade, Justiça, Reparação e Não-Repetição. Dentro dele, há uma divisão em três áreas. Existe a Jurisdição Especial para a Paz (JEP), que é um tribunal especial que julga e condena a penas de reparação (e não de prisão) responsáveis por delitos considerados de lesa humanidade, cometidos seja por militares, seja por guerrilheiros _ou, ainda, por civis envolvidos com uma das duas partes.

Outra instância é a Unidade de Busca de Pessoas Desaparecidas, que procura, como o nome diz, mapear e encontrar os que ainda estão desaparecidos _vivos ou mortos, e tentar descobrir o que ocorreu com eles.

Por fim, está a Comissão para o Esclarecimento da Verdade, da Convivência e da Não-Repetição. Esta é formada por mais de 500 investigadores, entre eles especialistas em direitos humanos, acadêmicos e representantes de distintos setores da sociedade, também os de minorias como os indígenas e os afro-colombianos. Sua função é completamente distinta das duas anteriores, e se resume a contar o que ocorreu. Não tanto em termos de cifras e nomes, e mais em termos de uma narrativa que explique as distintas fases da guerra, as razões por detrás de determinadas decisões e suas consequências. Nada do que descobre essa comissão será entregue à Justiça, as pessoas dão depoimentos de modo anônimo e nada do que digam e que possa fazer com que sejam identificadas é revelado.

A Comissão tem um mandato de três anos, e terá de entregar um relatório final de tudo o que for descoberto até novembro de 2021. Até aqui, foram entregues informes parciais e realizados eventos, documentários e encontros para debater os resultados. O relatório final, que surgirá de modo impresso e também por meio de uma plataforma multimídia será um valioso acervo de informação para historiadores desse período. Também conterá uma série de recomendações para tentar conter a violência, que nos últimos dois anos tem ressurgido na forma de assassinatos de líderes sociais e de massacres para demarcação de terreno entre os bandos guerrilheiros que tomaram o terreno antes monopolizado pelas Farc.

Haverá, ainda, como fruto do trabalho da comissão, subprodutos para a televisão, rádio e para programas didáticos e de confecção de material escolar, que por sua vez ajudarão a desconstruir estigmas e lugares-comuns sobre a guerra para as gerações futuras.

Se alguém tem dúvidas sobre a utilidade da história, aí está uma das respostas possíveis sobre para que ela serve. Entre outras coisas, para construir sociedades melhor-informadas e, quem sabe, mais preparadas para não cair em armadilhas políticas.

 

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História também é para se ouvir https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/historia-tambem-e-para-se-ouvir/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/historia-tambem-e-para-se-ouvir/#respond Tue, 22 Dec 2020 21:41:19 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/f1a04f15d9d26436ef48ebe4938e9fc8-300x215.png https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=148 Para os que pensam que a história é um campo de conhecimento que só pode ser penetrado por meio de livros, de longas sessões de internação em bibliotecas ou em arquivos de documentos, aqui vai uma surpresa. Hoje há produção de conteúdo para formatos diferentes, O que apresento aqui é o exemplo de um deles: o podcast.

Atravessamos uma pandemia que parece, aos que vivemos estes tempos, a mais devastadora de todas. Porém, vasculhar a história nos ilumina, como sempre, no presente. Por exemplo, no século 16, os conquistadores europeus trouxeram em suas embarcações, além da fé católica, do idioma e de sua cultura, nada menos que um punhado de doenças mortais: a varíola, o sarampo, a difteria, a malária e muitas outras enfermidades que, junto com o poderio de fogo, facilitaram muito a matança e a conquista. Além de ajudar a rotular o indígena como um sujeito fraco e inferior. Mas isso não era verdade. Aqueles povos originários, como nós, agora, com o coronavírus, não tinham os anticorpos necessários para sobreviver a essas doenças mortais. E essa foi uma das principais razões da alta mortalidade entre eles.

Quer saber um pouco mais sobre isso? Clique aqui.

Também se costuma repetir, na atualidade, um monte de estereótipos sobre o Paraguai, geralmente pejorativos, referindo-se a tudo o que vem desse país como algo falsificado ou de qualidade inferior. De onde nasceu isso? Estaria relacionado à terrível e sangrenta derrota do país na Guerra do Paraguai, do qual o Brasil participou e cujo final completa agora 150 anos? E por que a Guerra do Paraguai teve tantas interpretações diferentes ao longo do tempo? Por que a historiografia ofereceu tantas versões sobre o ocorrido? Um bom debate sobre isso está aqui.

E quando, no último dia 25 de maio, o cidadão negro norte-americano George Floyd foi morto por uma ação da polícia, você achou que era só mais um caso de violência policial? Pois saiba que, por detrás disso, havia toda uma história conflituosa e difícil da participação dos negros na política e das decisões da sociedade norte-americana desde o século 19. Um pouco mais sobre esse denso e delicado debate está aqui.

Estes são apenas alguns dos episódios de “Hora Americana”, um podcast disponível no Spotify, e comandado por quatro jovens acadêmicos brasileiros, dedicados a trazer a história para discutir temas do presente. O programa é quinzenal e seu objetivo é promover o debate de temas que são candentes para História das Américas, dentro e fora do ambiente universitário, embora a maioria do público seja mais vinculada a este último.

O formato é quinzenal e feito com entrevistas. A cada edição, um especialista sobre o tema escolhido é sabatinado pelos quatro rapazes. Uma da premissa de todos, que trabalham com assuntos de diferentes períodos da história da América, é a necessidade de fugir do eurocentrismo das narrativas tradicionais.

Os quatro realizadores são professores universitários: Caio Pedrosa da Silva, da (UFVJM), que é doutor, pela Unicamp, com a tese: “Mártires de Cristo Rey – Revolução e Religião no México”. Luís Kalil (UFRRJ), também doutor pela Unicamp e autor de “Filhos de Adão – As Teorias Sobre a Origem dos Indígenas”. Rodolpho Gauthier Cardoso dos Santos, doutor pela USP e autor de “A Invenção dos Discos Voadores – Guerra Fria, Imprensa e Ciência no Brasil”. E Valdir Donizete dos Santos Júnior, doutor pela USP e autor de “A Trama das Ideias: Intelectuais, Ensaios e Construção de identidades na América Latina”. 

Em uma conversa com o blog, dois de seus integrantes contaram um pouco de suas motivações e incentivos. Ambos lembraram, como, até pouco tempo atrás, era muito difícil incluir assuntos de história das Américas nos currículos escolares e no debate acadêmico, especialmente os relacionados à América Latina. Mas que isso, aos poucos, vem mudando.

O contexto das redemocratizações no Cone Sul, por exemplo, segundo os acadêmicos, teriam produzido um interesse pelos países vizinhos maior do que o que existia antes. “A redemocratização não foi algo que ocorreu só no Brasil. Houve uma geração de historiadores que é anterior à nossa e que se conectou com a de países vizinhos nessa época”, explica Valdir Donizete dos Santos Júnior. “Só que os tempos da academia são diferentes dos tempos do jornalismo. As pesquisas e teses que começaram a surgir aí foram lançadas bem depois. Esse grupo de pioneiros acabou formando uma nova geração, a nossa geração, que está agora atuando em tantas áreas e com tantos objetos de estudo diferentes, mas todos dentro da História das Américas”, completa.

Caio Pedrosa da Silva concorda, e também crê que questões latentes do presente têm estimulado uma busca de respostas num passado ainda mais distante, nos tempos coloniais. “São eles os temas do racismo, dos indígenas, por exemplo, que estão super-presentes na sociedade hoje, e a raiz está lá atrás”.

Os podcasts são para consumo amplo, mas não perde o tom e o rigor acadêmico, nem cede à panfletagem política. O Hora Americana também produz subprodutos nas redes, com postagens sobre dicas de livros, filmes e demais obras que são citadas pelos especialistas. 

Logo do podcast “Hora Americana” (Foto Divulgação)

Aqui, seguem as redes do programa, que tem conteúdo extra sobre cada episódio:

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Instagram.com/horaamericana

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Vacina obrigatória em 1904: projeto começou a andar, vacinação caiu https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/17/vacina-obrigatoria-em-1904-projeto-comecou-a-andar-vacinacao-caiu/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/17/vacina-obrigatoria-em-1904-projeto-comecou-a-andar-vacinacao-caiu/#respond Thu, 17 Dec 2020 13:22:07 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/bonde_revolta_vacina-300x213.jpg https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=18 Muito se comenta da Revolta da Vacina, que eclodiu em 10 de novembro de 1904 no Rio. Seu estopim veio de um furo do jornal A Notícia, na véspera, trazendo detalhes da regulamentação da lei, sancionada em 31 de outubro, que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola no país e submetia sua aplicação aos instrumentos de intervenção urbana e domiciliar criados por um decreto de janeiro.

Mas começou antes disso o efeito contrário ao esperado pelos formuladores da proposta –liderada pelo poderoso chefe da Diretoria Geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz. A vacinação na cidade, que vinha crescendo nos primeiros meses daquele ano, despencou em agosto, quando o projeto da vacinação obrigatória, aprovado no Senado em 20 de julho, começou a tramitar na Câmara dos Deputados.

Neste momento também se intensificou o bombardeio de setores da sociedade carioca sobre as autoridades que encabeçavam a iniciativa. Oswaldo Cruz, o ministro J.J. Seabra (Justiça) e o presidente Rodrigues Alves, o Soneca, passaram a ser alvos frequentes de críticas agressivas, celebrizadas nas ilustrações satíricas em periódicos como O Malho, Tagarela e Revista da Semana –cujos acervos digitalizados podem ser acessados na hemeroteca da Biblioteca Nacional.

A quantidade de pessoas vacinadas no Rio continuou baixa por pelo menos mais três anos. O volume de imunizados no triênio 1905-1907 somados equivaleu a menos de 20% dos que tinham recebido a proteção contra a doença infecciosa em 1904. Os dados são da Diretoria Geral de Saúde Pública e estão citados no livro “Os Bestializados” (Cia das Letras), de José Murilo de Carvalho.

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Feita com seriedade, toda história é real e presente https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/16/feita-com-seriedade-toda-historia-e-real-e-presente/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/16/feita-com-seriedade-toda-historia-e-real-e-presente/#respond Wed, 16 Dec 2020 13:00:23 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Captura-de-Tela-2020-12-12-às-17.46.43-300x215.png https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=70 Todo historiador já dedicou horas, dias, semanas a tarefas que, para muitos, soariam injustificáveis.

Conheço quem tenha passado semanas construindo uma única tabela sem que ninguém, nas palavras do autor desiludido, tenha notado o esforço implícito. Colegas que gastaram dias refazendo as origens de uma nota de rodapé obscura –alguns com êxito, outros nem tanto. Sem falar nas referências, aquelas que o indivíduo tem convicção de já ter lido, sem conseguir precisar nem autor, e nem título. Ainda mais cruel, quantas vezes aqueles que as enfim encontraram, lamentando disseram: “não era bem isso que eu lembrava.”

E o que dizer sobre os Arquivos, e suas coleções; aquele amontoado de papéis que conseguem simultaneamente não ter valor algum, mas ser inestimáveis? Anos contados em fotos de papéis carcomidos pelo tempo e por toda uma gama de substâncias não identificadas que tornam necessário o uso de luva e máscara a fim de garantir a integridade física –tanto do objeto quanto do sujeito– ao manuseá-los?

Fazer história é colecionar uma vida de fragmentos que demoram por vezes décadas, quiçá milênios para se encontrarem. Há quem veja nos cacos, nas peças à espera de montagem, o sentido do ofício. Há quem diga que a beleza está na imagem (re)construída.

Seja ela completa ou fragmentada, quando feita com seriedade e respeito às fontes, toda história é real, e toda história é presente.

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