A história é a seguinte https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br Contamos por que todo passado é presente Tue, 10 Aug 2021 12:55:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Antes de achar trabalho, achei a epidemia” https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/01/06/antes-de-achar-trabalho-achei-a-epidemia/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2021/01/06/antes-de-achar-trabalho-achei-a-epidemia/#respond Wed, 06 Jan 2021 13:10:13 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/hospital-1918-300x215.jpg https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=330 Nos primeiros dias de outubro de 1918, João Francisco Carreira, sua mulher e cinco filhos deixaram Socorro onde moravam com destino à capital do estado. Pedreiro de profissão, o objetivo de Carreira era tornar-se operário da emergente indústria paulistana. Por infortúnio do destino, junto com a família chegou a São Paulo a gripe espanhola.

Em carta enviada ao então prefeito Washington Luís (Arquivo Histórico Municipal de São Paulo, Fundo PAH, 384) Carreira narra suas tentativas frustradas de conseguir serviço. A epidemia, escreve, “frustrou a todos nós”. Na ausência de uma fonte de renda, as pequenas economias da família esgotaram-se em menos de um mês. Como último recurso, escrevia ao prefeito rogando colocação nos serviços municipais. “Senhor, tenho horror à miséria,” sentenciou ao fim da carta.

O pedido foi repassado para diversos serviços municipais, da polícia aos cemitérios, a fim de que o nome de Carreira fosse lembrado “quando haja necessidade ou falta de pedreiro”. Se ele foi de fato chamado, não sabemos, mas em algum momento entre o fim de 1918 e fevereiro de 1921 Carreira voltou a residir em Socorro. Sobreviveu à epidemia para, infelizmente, presenciar a morte de uma de suas filhas. Mariquinha e seu namorado recriaram, para tristeza dos familiares, a cena fatídica de Romeu e Julieta, trocando o veneno e o punhal por balas de revólver. As tragédias, tal como hoje, vêm de todos os lados.

Para quem quiser entender como a gripe espanhola afetou a milhares de outros Joãos, a leitura de “Influenza, a medicina enferma” de Liane Maria Bertucci (Editora Unicamp) é uma experiência que beira ao surrealismo. Das primeiras notícias que traziam depoimentos tranquilizantes sobre a não letalidade da doença a relatos sobre a proliferação de curas milagrosas, os paralelos com os dias atuais são desconcertantes. Da epidemia de 1918 sobraram, como abordamos recentemente, números ainda não bem esclarecidos e a impressão de que, guardados os anacronismos, a história é de fato cíclica.

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Lançamentos de 2020 para começar o novo ano em boa companhia https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/28/lancamentos-de-2020-para-comecar-o-novo-ano-em-boa-companhia/ https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/2020/12/28/lancamentos-de-2020-para-comecar-o-novo-ano-em-boa-companhia/#respond Mon, 28 Dec 2020 13:02:55 +0000 https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Presentation1-1-300x215.jpg https://ahistoriaeaseguinte.blogfolha.uol.com.br/?p=203 Quem tem um bom livro está na melhor companhia.

Por isso, decidi montar uma lista com algumas recomendações de livros lançados em 2020 para começarmos 2021 com o pé direito. Longe de ser uma lista completa, os livros abaixo são uma pequena seleção nas áreas de história da vida econômica, história do capitalismo e história internacional. Espero que curtam.

 

A Aliança para o Progresso e o governo João Goulart (1961-1964): Ajuda econômica norte-americana a estados brasileiros e a desestabilização da democracia no Brasil pós-guerra, por Felipe Pereira Loureiro

Em A Aliança para o Progresso e o governo João Goulart (1961-1964), o historiador Felipe Pereira Loureiro examina como o governo dos Estados Unidos ofereceu ajuda econômica aos estados brasileiros à revelia do governo federal como parte de um projeto maior de desestabilização da administração do presidente brasileiro João Goulart. O livro ilumina uma faceta de esforços intervencionistas norte-americanos na América Latina no início da década de 1960 enquanto parte da sua agenda internacional de promoção ao desenvolvimento.

 

Tomorrow, the World: The Birth of U.S. Global Supremacy, por Stephen Wertheim

Em Tomorrow, the World, o historiador Stephen Wertheim explica como os Estados Unidos passaram de um país que por muitos anos se recusara a participar da política de poder de estilo europeu para uma superpotência com planos de supremacia global. Wertheim demonstra que as bases para essa mudança podem ser encontradas na Segunda Guerra Mundial, quando tomadores de decisão norte-americanos escolheram trabalhar para consolidar a proeminência econômica e militar dos Estados Unidos no pós-guerra, e que a ideia de uma tradição isolacionista nada mais é que um mito arquitetado pelos próprios criadores do novo programa para justificar os novos anseios por supremacia global.

 

The Mismeasure of Progress: Economic Growth and its Critics, por Stephen J. Macekura

Em The Mismeasure of Progress, o historiador Stephen J. Macekura examina as origens do paradigma de crescimento econômico no século XX e a emergência dos primeiros críticos ao mito das possibilidades infinitas de crescimento econômico e do PIB como seu principal indicador e instrumento de mensuração. Macekura explora como, para esses primeiros pensadores e ativistas, uma análise crítica do PIB como instrumento de mensuração e a própria redefinição do que entendemos por crescimento era um passo essencial para criamos uma sociedade mais justa e sustentável.

 

Violência e a História da Desigualdade, por Walter Scheidel

Nesse livro originalmente publicado em 2018 sob o título The Great Leveler, o historiador Walter Scheidel analisa como catástrofes e violência em massa produziram as condições para a redução da desigualdade econômica da Idade da Pedra aos nossos dias. O livro coloca uma questão intrigante: qual é o efeito da atual redução do tipo de violência que havia historicamente contribuído para mitigar desigualdade econômica sobre a possibilidade de um futuro com melhor distribuição de renda e riqueza? O livro aborda ainda algumas das causas por trás da persistência da desigualdade.

 

Sorting Out the Mixed Economy: The Rise and Fall of Welfare and Developmental States in the Americas, por Amy C. Offner

Nesse livro, a historiadora Amy C. Offner examina a gênesis do Estado desenvolvimentista e do Estado de bem-estar social na Colômbia e nos Estados Unidos em meados do século XX. O livro demonstra como muitos dos princípios posteriormente classificados como neoliberais foram, na realidade, criados no seio de políticas e programas desenhados e implementados sob a égide dos Estados desenvolvimentista e de bem-estar social nesses dois países, sendo re-adaptados e re-utilizados nas décadas de 1970 e 1980 para sustentar políticas de austeridade que acabaram promovendo o próprio desmantelamento desses Estados.

 

Forging Global Fordism: Nazi Germany, Soviet Russia, and the Contest over the Industrial Order, por Stefan J. Link

Em Forging Global Fordism, o historiador Stefan J. Link oferece uma história global do fordismo para além do seu epicentro nos Estados Unidos. Link mostra como, na década de 1930, especialistas nazistas e soviéticos visitaram os Estados Unidos para copiar as técnicas de produção em massa empregadas pela indústria automobilística norte-americana, então considerada uma das fontes centrais de riqueza industrial do país. O autor demonstra como a Alemanha nazista e a União Soviética então abraçaram o Fordismo como uma das bases de seu crescimento industrial e argumenta ainda como a visão anti-liberal de Henry Ford contribuiu para a adoção de suas técnicas de produção em massa em dois países que passavam por profundas mudanças sociais e ideológicas.

 

Revolution in Development: Mexico and the Governance of the Global Economy, por Christy Thornton

Em Revolution in Development, a historiadora Christy Thornton examina a influência do México nas principais instituições internacionais de governança econômica da década de 1920 à década de 1980. A autora demonstra como políticos, diplomatas e economistas mexicanos buscaram apoio de países do Terceiro Mundo para reformar o regime de desenvolvimento internacional em busca de maior representação e distribuição. O livro será publicado oficialmente em janeiro de 2021, mas já está disponível para compra.

 

History of Information Graphics, por Sandra Rendgen e Julius Wiedemann

Nesse volume, a historiadora da arte Sandra Rendgen e o especialista em design e cultura visual Julius Wiedemann constróem uma história da visualização de dados desde a Idade Média até os dias de hoje através de mais de 400 imagens que servem como marcos do desenvolvimento da representação gráfica de dados.

 

O mundo está mudando muito rapidamente à nossa volta e, mais do que nunca, é mister lermos bons livros para tentar compreendê-lo. Fiquem de olho no blog para algumas resenhas em 2021.

Boas festas a todos.

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