O general queria os militares fora do governo
Em 15 de junho de 1893, o general Frederico Sólon Ribeiro, deputado federal por Mato Grosso, pediu a palavra para encaminhar à apreciação da Câmara o seguinte projeto de lei:
Art. 1º Nenhum militar em atividade poderá exercer cargo algum político, quer de eleição popular, quer de nomeação.
Art. 2º O militar que aceitar cargo de que trata o artigo anterior entende-se ter renunciado à sua patente.
Parágrafo único. A falta de renúncia expressa induz reforma imediata com as vantagens que por lei competirem ao reformado, sem direito ao regresso ao serviço ativo do Exército.
Art. 3º. Excetuam-se, nas disposições do art. 1º, as comissões técnicas e científicas ou diplomáticas previstas por lei.
Frederico Sólon guardava do lendário reformador ateniense apenas o nome, assim como o coronel niteroiense Benjamin Constant não passava de uma sombra quase contraditória do seu célebre homônimo franco-suíço, gigante do liberalismo continental.
Esses oficiais, no entanto, eram o que tinha para o dia no final do século 19, no Rio, e ajudaram a fazer a nossa República na base da força. Enquanto Benjamin disseminava um positivismo intervencionista nas escolas militares, Frederico, ainda major, disseminava desinformação. Ele espalhou a mentira, em 14 de novembro de 1889, de que o gabinete Ouro Preto havia decretado a prisão do marechal Deodoro da Fonseca, de Benjamin Constant e de agitadores republicanos. Foi o estopim para o golpe do dia seguinte.
Em 1893, Sólon, sogro do escritor Euclides da Cunha, estava rompido com o marechal Floriano Peixoto, que assumira, ao arrepio do comando constitucional, a Presidência no final de 1891, após um autogolpe frustrado de Deodoro. À proclamação havia se seguido um avanço voluptuoso de militares sobre postos administrativos, verbas e privilégios federais.
É nesse contexto que o general Sólon Ribeiro apresenta o projeto de lei para acabar com a farra. Dez dias depois de pedir passagem à proposta na Câmara, ele justificou a iniciativa num artigo ao Jornal do Commercio:
“A história está repleta de Exércitos liberticidas que, sobretudo após as grandes reformas sociais, têm sempre a parte do leão em todos os despojos; faltava-lhe o exemplo de um Exército procurando espontaneamente o império nobilitador da lei, abdicando ambições fáceis de serem realizadas e às quais se presta admiravelmente toda a perturbação que lavra por este país. (…) O projeto que apresentei terá o valor de destruir ante a opinião estrangeira a perspectiva desmoralizadora dos pronunciamentos [eufemismo para as quarteladas da América hispânica].”
O projeto de Frederico Sólon Ribeiro, obviamente, naufragou. O autor foi preso por Floriano poucos meses depois, nos expurgos que se seguiram à Revolta da Armada. O genro Euclides, florianista e integrante das tropas que defenderam o marechal do cerco naval no Rio, viu-se numa saia-justa familiar e escreveu à sogra, Túlia, solicitando que seu nome não mais fosse declinado na casa dos sogros.