Bebês ficam para depois
No início das medidas mais drásticas de restrição para frear o coronavírus, há um ano, surgiu a dúvida: as pessoas resguardadas nos lares fariam mais ou menos filhos? Em tese, os dois desdobramentos seriam possíveis.
Casais reunidos por mais tempo poderiam tomar a decisão de ampliar a família, e o aumento das relações sexuais, também por hipótese, resultaria num número maior de gravidezes não planejadas. Por outro lado, a insegurança sobre o futuro, o medo da morte e do empobrecimento e o estresse costumam agir no sentido contrário.
Nove meses depois, o segundo efeito, depressivo, parece que prevaleceu. Na Espanha, onde a quarentena foi bem apertada, os nascimentos em dezembro e janeiro últimos despencaram 23% na comparação com um ano antes. Os nascimentos em dezembro de 2020 sugerem que a capital paulista foi pelo mesmo caminho.
Nada novo.
Na gripe espanhola, que incidiu fortemente no último trimestre de 1918, o padrão foi semelhante. Os nascimentos na capital paulista vinham quase estáveis em 1917 e 1918, mas caíram 5% em 1919.
Há outro elemento na observação histórica para em breve tirarmos a teima: tão logo o perigo se vai, a sociedade tende a compensar os filhos não nascidos durante a crise. Em 1920, os nascimentos cresceram 16% na capital paulista. Nos EUA, após a queda de 7% em 1919, vieram as altas também atípicas de 8%, em 1920, e 4%, em 1921.
Esse efeito de mola encolhida que de repente se expande e apenas num terceiro estágio reencontra alguma estabilidade ocorreu em outros domínios da vida. Na economia, na cultura, nos costumes. Os efervescentes anos 1920 sucederam a trágica segunda metade da década anterior. Vamos ver como as coisas se desenrolam desta vez.