Acesso a documentos digitais revoluciona pesquisa histórica

Documentos digitalizados têm revolucionado a pesquisa histórica nos últimos anos. Um exemplo já bem conhecido no Brasil é a Hemeroteca Digital, um inestimável serviço da Biblioteca Nacional que traz o acervo de jornais fundamentais para o estudo dos eventos políticos, sociais e econômicos da história brasileira, como o Correio Paulistano e o Jornal do Commercio. Recentemente, o Diário de Pernambuco, considerado o jornal mais antigo (desde 7 de novembro de 1825) em circulação da América Latina, também foi incorporado à Hemeroteca.

Há várias outras iniciativas igualmente importantes. Muitas fontes que eram o sonho de pesquisadores, como por exemplo os Anais da Câmara dos Deputados e do Senado (Império e República), podem ser acessadas agora facilmente em suas edições originais. Nessas publicações da Câmara e do Senado encontram-se todos os personagens, debates, políticas e legislações que passaram por essas casas legislativas desde 1823. São informações e dados que precisam ser consultados em qualquer tentativa de ir além de generalizações superficiais em não poucos temas da história brasileira.

Da mesma forma, as Instruções e Circulares da Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito), no site do Banco Central, são uma fonte básica para reconstituir a complicada história da principal política econômica (a cambial) no Brasil entre 1945 e 1965. Outra referência valiosa para a análise da economia do período do pós-guerra, e que é curiosamente subutilizada hoje em dia, é a revista Conjuntura Econômica da FGV, uma publicação mensal que é chave para acompanhar a política econômica e os dados da economia brasileira, sobretudo de 1947 à década de 1980. A coleção completa da Conjuntura Econômica está disponível em um site que permite, além do mais, a busca por palavras-chave em várias edições combinadas.

Há ainda preciosidades como as bibliotecas digitais de “Obras Raras” do Senado, da Câmara e do STF, bem como a Coleção Brasiliana da antiga Companhia Editora Nacional, digitalizada pela UFRJ. Outro exemplo é a Biblioteca Básica Brasileira, idealizada por Darcy Ribeiro e que foi abordada neste blog por Hanna Manente. Essas coleções reúnem livros de autores muitas vezes esquecidos, mas que continuam necessários para se investigar temas políticos, econômicos e sociais da colônia, do século XIX e da primeira metade do século XX no Brasil.

Em diversos casos, as obras dessas coleções que começaram a ser organizadas na década de 1930 permanecem entre as principais referências para o estudo da sociedade brasileira. Apenas para citar exemplos relacionados à história econômica, em três assuntos diferentes: João de Azevedo Carneiro Maia, O Municipio. Estudos sobre Administração Local (1883); Augusto Olympio Viveiros de CastroTratado dos Impostos. Estudo Theorico e Pratico (1910) e João Pandiá Calógeras, A Política Monetária do Brasil (1910). A digitalização e o amplo acesso de livros como esses podem ajudar a reduzir a tendência da historiografia recente de negligenciar obras fundamentais pela sua idade.