Vacina obrigatória em 1904: projeto começou a andar, vacinação caiu

Muito se comenta da Revolta da Vacina, que eclodiu em 10 de novembro de 1904 no Rio. Seu estopim veio de um furo do jornal A Notícia, na véspera, trazendo detalhes da regulamentação da lei, sancionada em 31 de outubro, que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola no país e submetia sua aplicação aos instrumentos de intervenção urbana e domiciliar criados por um decreto de janeiro.

Mas começou antes disso o efeito contrário ao esperado pelos formuladores da proposta –liderada pelo poderoso chefe da Diretoria Geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz. A vacinação na cidade, que vinha crescendo nos primeiros meses daquele ano, despencou em agosto, quando o projeto da vacinação obrigatória, aprovado no Senado em 20 de julho, começou a tramitar na Câmara dos Deputados.

Neste momento também se intensificou o bombardeio de setores da sociedade carioca sobre as autoridades que encabeçavam a iniciativa. Oswaldo Cruz, o ministro J.J. Seabra (Justiça) e o presidente Rodrigues Alves, o Soneca, passaram a ser alvos frequentes de críticas agressivas, celebrizadas nas ilustrações satíricas em periódicos como O Malho, Tagarela e Revista da Semana –cujos acervos digitalizados podem ser acessados na hemeroteca da Biblioteca Nacional.

A quantidade de pessoas vacinadas no Rio continuou baixa por pelo menos mais três anos. O volume de imunizados no triênio 1905-1907 somados equivaleu a menos de 20% dos que tinham recebido a proteção contra a doença infecciosa em 1904. Os dados são da Diretoria Geral de Saúde Pública e estão citados no livro “Os Bestializados” (Cia das Letras), de José Murilo de Carvalho.