Feita com seriedade, toda história é real e presente

Todo historiador já dedicou horas, dias, semanas a tarefas que, para muitos, soariam injustificáveis.

Conheço quem tenha passado semanas construindo uma única tabela sem que ninguém, nas palavras do autor desiludido, tenha notado o esforço implícito. Colegas que gastaram dias refazendo as origens de uma nota de rodapé obscura –alguns com êxito, outros nem tanto. Sem falar nas referências, aquelas que o indivíduo tem convicção de já ter lido, sem conseguir precisar nem autor, e nem título. Ainda mais cruel, quantas vezes aqueles que as enfim encontraram, lamentando disseram: “não era bem isso que eu lembrava.”

E o que dizer sobre os Arquivos, e suas coleções; aquele amontoado de papéis que conseguem simultaneamente não ter valor algum, mas ser inestimáveis? Anos contados em fotos de papéis carcomidos pelo tempo e por toda uma gama de substâncias não identificadas que tornam necessário o uso de luva e máscara a fim de garantir a integridade física –tanto do objeto quanto do sujeito– ao manuseá-los?

Fazer história é colecionar uma vida de fragmentos que demoram por vezes décadas, quiçá milênios para se encontrarem. Há quem veja nos cacos, nas peças à espera de montagem, o sentido do ofício. Há quem diga que a beleza está na imagem (re)construída.

Seja ela completa ou fragmentada, quando feita com seriedade e respeito às fontes, toda história é real, e toda história é presente.